Banco do Brasil 2T2025 pode ter queda de 51% no lucro após 1T25 difícil

O Banco do Brasil (BBAS3) enfrenta um dos períodos mais desafiadores dos últimos anos. Após registrar uma queda significativa de 20,7% no lucro líquido do primeiro trimestre de 2025, que totalizou R$ 7,37 bilhões, o mercado financeiro volta suas atenções para os resultados do segundo trimestre com expectativas ainda mais pessimistas.

O cenário atual é marcado por pressões múltiplas: deterioração da qualidade do crédito, especialmente no setor agropecuário, aumento das provisões para devedores duvidosos e um ambiente macroeconômico desafiador. Com analistas projetando uma queda de até 51% no lucro do 2T2025 em comparação ao mesmo período do ano anterior, o banco estatal se prepara para divulgar números que podem consolidar um dos piores desempenhos da última década.

Este cenário de incertezas levou grandes casas de análise a revisarem drasticamente suas projeções para baixo, com o Goldman Sachs prevendo que o BB registrará o menor retorno sobre patrimônio líquido (ROE) em quase uma década. As ações do banco acumulam mais de R$ 5 bilhões em posições vendidas, refletindo o pessimismo generalizado do mercado.

Análise do Desempenho no 1º Trimestre 2025

Os números do primeiro trimestre de 2025 foram um divisor de águas para o Banco do Brasil. O lucro líquido ajustado de R$ 7,37 bilhões representou uma queda de 20,7% em relação ao mesmo período de 2024 e ficou significativamente abaixo da expectativa de consenso de R$ 9,32 bilhões. Este resultado também marcou uma retração de 23% em comparação ao quarto trimestre de 2024, sinalizando uma tendência de deterioração sequencial.

O principal vilão dos resultados foi o setor agropecuário, tradicionalmente um dos pilares de sustentação do banco. O agravamento da inadimplência de parte da carteira de agronegócios ficou acima do esperado, forçando o banco a constituir provisões significativamente maiores para cobrir possíveis perdas com créditos problemáticos.

O lucro líquido ficou 17% abaixo do consenso e 22% abaixo das estimativas da XP Investimentos, refletindo o alto custo do crédito e a perda de receita com juros de operações reclassificadas como ativos problemáticos, o que fez o ROE cair para 16,7% – uma queda brutal de 500 pontos base em comparação ao ano anterior.

A reação do mercado foi imediata e severa. As ações do BB, que já vinham pressionadas, intensificaram a queda após a divulgação dos resultados. A suspensão das projeções (guidance) para o ano pelo próprio banco gerou ainda mais incertezas entre investidores, que passaram a questionar a capacidade da instituição de navegar pelo atual ciclo de crédito deteriorado.

Outros indicadores também mostraram sinais preocupantes. A receita de serviços recuou 4,8% em relação ao último trimestre de 2024, enquanto a margem financeira apresentou baixa anual de 26,7%. Estes números evidenciam que os problemas do banco não se limitam apenas à qualidade do crédito, mas também afetam outras fontes de receita.

Expectativas para os Resultados do 2T2025

As projeções para o segundo trimestre de 2025 pintam um cenário ainda mais sombrio. Analistas estimam uma queda de 51,1% no lucro líquido em comparação ao mesmo período do ano anterior, com expectativa de lucro de apenas R$ 4,64 bilhões. Se confirmadas, essas cifras representariam o pior desempenho trimestral do banco em muitos anos.

O JP Morgan projeta provisões líquidas de R$ 13 bilhões no 2T25, um aumento de 70% em relação ao ano passado e de 31% em comparação ao trimestre anterior. Esta explosão nas provisões reflete não apenas a deterioração contínua do crédito rural, mas também problemas emergentes em outras carteiras, particularmente no segmento de pequenas e médias empresas (PMEs).

A XP Investimentos ajustou suas projeções para refletir o aumento da inadimplência acima de 90 dias para 4,5% e um crescimento mais lento dos empréstimos de 6,6% contra 9,0% anteriormente. Esta revisão para baixo demonstra que mesmo casas de análise tradicionalmente otimistas estão adotando uma postura mais cautelosa.

O consenso de mercado indica que os principais fatores que podem influenciar negativamente os resultados incluem: a continuidade da crise no agronegócios, com impactos de condições climáticas adversas e volatilidade nos preços das commodities; o aumento generalizado da inadimplência em diferentes segmentos; pressões na margem financeira devido ao ambiente competitivo; e custos operacionais elevados em meio à necessidade de investimentos em tecnologia.

Por outro lado, alguns fatores podem proporcionar alívio parcial, como a manutenção de spreads em patamares ainda atrativos em certas carteiras, crescimento da base de clientes pessoa física, e receitas de serviços que podem se recuperar gradualmente com a digitalização acelerada dos processos.

Indicadores-Chave a Observar no 2º Trimestre

O mercado estará particularmente atento a alguns indicadores fundamentais que podem determinar a trajetória futura do banco. Analistas preveem que o retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) deve cair para 11%, longe dos 16,2% do primeiro trimestre e 21,6% do mesmo período do ano passado. Este seria o menor patamar registrado pelo banco em quase uma década.

A inadimplência acima de 90 dias é outro ponto crucial de monitoramento. As projeções apontam para um agravamento deste indicador, especialmente nas carteiras de agronegócios e PMEs, que têm sido os principais focos de deterioração da qualidade de crédito.

As provisões para devedores duvidosos (PDD) representam talvez o indicador mais crítico. Com expectativas de provisões líquidas na casa de R$ 13 bilhões, este número pode consumir uma parcela significativa da receita do banco, impactando diretamente a capacidade de geração de lucros.

A margem financeira líquida também merece atenção especial. Em um ambiente de competição acirrada e necessidade de preservar relacionamentos com clientes em dificuldades, o banco pode ser forçado a aceitar spreads menores, pressionando ainda mais a rentabilidade.

O índice de eficiência operacional será outro termômetro importante. Com receitas sob pressão, a capacidade do banco de controlar custos e despesas administrativas se torna fundamental para minimizar os impactos no resultado final.

Os analistas calculam um payout (parte do lucro distribuído a acionistas) de 35-36%, como forma de preservar capital, devido à pressão sobre lucros e provisões maiores. Atualmente, o payout do BB é de 40%, o que indica uma provável redução nos dividendos pagos aos acionistas.

Cenário Macroeconômico e Impactos no BB

O ambiente macroeconômico brasileiro apresenta desafios adicionais para o desempenho do Banco do Brasil no segundo trimestre. A manutenção da taxa Selic em patamares elevados, embora benéfica para a margem de juros líquida em teoria, tem criado pressões significativas sobre a capacidade de pagamento dos tomadores de crédito.

O setor agropecuário, tradicionalmente forte para o BB, enfrenta múltiplos desafios. Condições climáticas adversas em várias regiões do país, volatilidade nos preços das commodities no mercado internacional e custos de produção elevados têm pressionado a rentabilidade dos produtores rurais. Esta situação se reflete diretamente na carteira de crédito do banco, que possui forte exposição ao agronegócio.

A inflação, embora sob controle relativo, continua afetando o poder de compra das famílias brasileiras, impactando especialmente os segmentos de menor renda – base importante da clientela do BB. O crescimento do PIB brasileiro, projetado para ficar abaixo de 2% em 2025, também contribui para um ambiente de negócios mais desafiador.

O mercado de crédito como um todo tem mostrado sinais de desaquecimento, com bancos adotando políticas mais restritivas na concessão de empréstimos. Para o BB, isso representa um dilema: manter critérios mais rigorosos pode limitar o crescimento, mas flexibilizar demais pode agravar ainda mais os problemas de inadimplência.

As políticas governamentais para o setor financeiro também influenciam o desempenho do banco. Como instituição estatal, o BB frequentemente é chamado a participar de programas de estímulo econômico, o que pode impactar sua estratégia comercial e perfil de risco.

Visão dos Analistas e Recomendações

O consenso entre as principais casas de análise é de cautela extrema em relação às ações do Banco do Brasil. O Goldman Sachs cortou drasticamente suas projeções de lucro líquido para 2025, estimando R$ 25,6 bilhões, cifra 31% abaixo do piso da projeção anterior de R$ 37 a R$ 41 bilhões.

Os analistas do Goldman Sachs preveem mais uma temporada de resultados fracos, com lucros e rentabilidade pressionados, além de uma expansão da inadimplência e aumento nas provisões. Esta visão pessimista é compartilhada por outras importantes instituições financeiras.

A XP Investimentos, que tradicionalmente mantinha uma postura mais otimista em relação ao BB, também revisou suas projeções para baixo. A principal revisão se deu no ajuste para refletir a piora na inadimplência acima de 90 dias, subindo a previsão para 4,5% no ano, ante 4% anteriormente.

O Safra, por sua vez, cortou suas projeções de lucro em aproximadamente R$ 700 milhões, demonstrando que mesmo os bancos mais conservadores em suas estimativas foram surpreendidos pela magnitude da deterioração.

A projeção de queda de cerca de 50% do lucro líquido na base de comparação anual, com crédito corporativo de PMEs também como um destaque negativo, tem levado analistas a questionarem se o atual ciclo de deterioração pode se prolongar mais do que inicialmente antecipado.

Estratégias do Banco do Brasil para Recuperação

Diante deste cenário desafiador, o Banco do Brasil tem anunciado uma série de medidas para tentar reverter a trajetória de deterioração dos resultados. A digitalização acelerada dos processos é uma das principais apostas da instituição, com investimentos significativos em tecnologia para melhorar a eficiência operacional e reduzir custos.

No segmento de crédito, o banco tem adotado critérios mais rigorosos para concessão de novos empréstimos, especialmente nas carteiras que apresentam maior deterioração. A renegociação proativa com clientes em dificuldades também faz parte da estratégia para minimizar perdas futuras.

A diversificação da carteira de produtos e serviços é outro foco importante. O BB tem buscado expandir suas receitas com produtos de maior valor agregado, como seguros, previdência e gestão de recursos, que tendem a ser mais estáveis e menos sensíveis aos ciclos econômicos.

O controle rigoroso de custos e despesas administrativas tem sido uma prioridade constante. A instituição tem implementado programas de eficiência operacional e otimização de processos para manter a competitividade mesmo em um ambiente de receitas pressionadas.

O guidance para a carteira total de empréstimos ainda aponta para um crescimento entre 5,5% e 9,5% ao ano, embora analistas esperem uma desaceleração sequencial no 2T, indicando uma postura mais conservadora da instituição.

A preservação de capital também se tornou uma preocupação central, com a provável redução do payout para acionistas como forma de fortalecer o balanço patrimonial diante das incertezas do cenário atual.

Conclusão

O segundo trimestre de 2025 representa um momento crucial para o Banco do Brasil. Com expectativas de uma queda superior a 50% no lucro líquido em comparação ao mesmo período do ano anterior, o banco enfrenta um dos períodos mais desafiadores de sua história recente.

Os principais fatores críticos a serem observados incluem o comportamento da inadimplência nas carteiras de agronegócios e PMEs, a evolução das provisões para devedores duvidosos, e a capacidade da instituição de manter spreads atrativos em um ambiente competitivo. O ROE, que pode atingir o menor patamar em quase uma década, será um indicador fundamental da eficiência na geração de valor para os acionistas.

A divulgação dos resultados do 2T2025, prevista para agosto, será um momento decisivo para avaliar se o banco conseguiu implementar medidas efetivas para conter a deterioração ou se o ciclo negativo ainda tem potencial para se prolongar. O mercado aguarda não apenas os números, mas também sinalizações da administração sobre as perspectivas futuras e possíveis ajustes estratégicos.

Para investidores, o momento exige cautela extrema e acompanhamento próximo dos indicadores operacionais que podem sinalizar uma eventual reversão da trajetória atual. A recuperação do Banco do Brasil dependerá de uma combinação de fatores internos e externos, incluindo a melhoria do cenário macroeconômico e a efetividade das medidas gerenciais implementadas pela instituição.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Translate »
Rolar para cima